Relatório da UNESCO 2024: Um Olhar Crítico sobre o Estado do Oceano
Relatório da UNESCO 2024: Um Olhar Crítico sobre o Estado do Oceano

Relatório da UNESCO 2024: Um Olhar Crítico sobre o Estado do Oceano

Introdução:

O Relatório do Estado do Oceano de 2024 da UNESCO é uma leitura essencial para qualquer pessoa preocupada com o futuro do nosso planeta. Como doutorando, mergulhei em suas descobertas e compartilho aqui minhas reflexões, com foco em áreas relevantes para outros pesquisadores e entusiastas do oceano. O relatório, elaborado por mais de 98 autores de 25 países, pinta um quadro preocupante, mas também destaca áreas de progresso e oportunidades para fazer a diferença.

Um Oceano em Mudança:

O relatório confirma o que muitos temíamos: o oceano está mudando em um ritmo alarmante. O aquecimento global causa o aumento da temperatura do oceano, resultando em eventos climáticos mais extremos, como ondas de calor marinhas, tempestades e furacões mais intensos. As consequências são diversas, desde a perda de biodiversidade e degradação de habitats até o aumento da acidificação das águas, impactando diretamente a vida marinha e os ecossistemas. O nível do mar também está subindo em um ritmo acelerado, ameaçando comunidades costeiras e ecossistemas, intensificando a erosão costeira e colocando em risco a infraestrutura costeira.

É preocupante ver a evidência clara da influência humana nessas mudanças. O relatório é um chamado à ação para aprofundarmos nossas pesquisas e contribuirmos para soluções para esses desafios, buscando alternativas mais sustentáveis em diversos setores e promovendo a conscientização sobre a importância da preservação do oceano.

Poluição: Um Desafio Persistente:

O relatório destaca a ameaça crescente da poluição, especialmente da poluição por plástico e eutrofização. A quantidade de plástico no oceano aumentou significativamente, a uma taxa crescente, resultando em impactos que estão além do que a humanidade pode suportar com segurança. A presença de microplásticos na cadeia alimentar, a contaminação de ecossistemas e os prejuízos à saúde humana são apenas algumas das consequências dessa poluição desenfreada.

Embora existam iniciativas para reduzir o lixo plástico e melhorar o gerenciamento de resíduos, como o Projeto GloLitter Partnerships, que visa combater a poluição marinha por plástico, o relatório enfatiza a necessidade de ações mais abrangentes e globais. Precisamos repensar nosso uso de plástico e desenvolver soluções inovadoras para produção sustentável, restrição de geração de resíduos plásticos e prevenção de vazamento no oceano. A responsabilidade compartilhada entre governos, indústria e consumidores é crucial para reverter esse cenário.

Biodiversidade Marinha: Protegendo Nossos Ecossistemas:

Apesar dos desafios, o relatório também oferece alguns vislumbres de esperança. As Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) fornecem abrigo para a vida marinha contra os estressores mencionados acima. O relatório observa que mais de 70% das espécies ameaçadas de extinção buscam abrigo nas AMPs, mas apenas uma pequena fração de sua distribuição conhecida está coberta por essas áreas protegidas, demonstrando a necessidade de ampliar a proteção de áreas essenciais para a conservação da biodiversidade marinha.

Isso levanta questões sobre a eficácia das AMPs atuais na proteção da biodiversidade marinha. Mais pesquisas são necessárias para entender como podemos otimizar o projeto e o gerenciamento das AMPs para garantir sua eficácia na proteção de espécies ameaçadas e seus habitats, considerando fatores como conectividade entre áreas, representatividade de ecossistemas e participação de comunidades locais na gestão.

O Papel da Ciência e Tecnologia:

O relatório enfatiza a importância da ciência e tecnologia para enfrentar os desafios que nossos oceanos enfrentam. O desenvolvimento de sistemas operacionais de previsão do oceano, como a do Sistema Global de Observação do Oceano (GOOS), amadureceu para fornecer informações acionáveis para uma variedade de usuários, auxiliando na previsão de eventos climáticos, monitoramento da qualidade da água e gestão de recursos pesqueiros. No entanto, ainda há uma lacuna significativa entre a capacidade de previsão nos hemisférios norte e sul, evidenciando a necessidade de investimentos em pesquisa e infraestrutura nos países em desenvolvimento.

As técnicas de remoção de dióxido de carbono marinho (mCDR) para aumentar o estoque de carbono no oceano são promissoras, com potencial para mitigar as mudanças climáticas e reduzir a acidificação do oceano. No entanto, o relatório reconhece que a implantação em grande escala dessas técnicas exige uma maior compreensão de como elas interagem com o ciclo do carbono oceânico e os ecossistemas marinhos, bem como uma avaliação cuidadosa dos riscos e benefícios associados a cada técnica.

O Caminho a Seguir: Governança e Engajamento Público:

O relatório deixa claro que abordar a crise do oceano exigirá esforços conjuntos de governos, cientistas, indústria e do público. O engajamento público é fundamental para promover a alfabetização oceânica e inspirar ações para proteger nossos oceanos. A educação ambiental, o acesso à informação e a participação em debates públicos são ferramentas essenciais para empoderar os cidadãos e promover mudanças positivas.

O relatório reconhece a importância de envolver os povos indígenas na ciência e política oceânicas. Seus conhecimentos tradicionais podem fornecer informações valiosas para pesquisadores e formuladores de políticas, contribuindo para a gestão sustentável dos recursos marinhos e a conservação da biodiversidade. No entanto, mais esforços são necessários para envolver melhor os povos indígenas na política e planejamento marinho, garantindo que suas vozes sejam ouvidas e seus direitos respeitados.

Conclusão:

O Relatório do Estado do Oceano de 2024 da UNESCO é uma leitura sóbria, mas importante, que serve como um lembrete dos desafios que enfrentamos, mas também destaca as oportunidades de fazer a diferença. Nossos oceanos estão em crise, mas não podemos perder a esperança. Ao trabalharmos juntos, podemos proteger este recurso vital para as gerações futuras.

Observações Finais:

O relatório destaca áreas adicionais de interesse para pesquisadores, como o papel da modelagem e previsão do oceano na compreensão das mudanças oceânicas, o potencial de soluções baseadas na natureza para mitigação e adaptação às mudanças climáticas e a necessidade de uma estrutura abrangente para governança e tomada de decisão oceânicas, que promova a cooperação internacional e a gestão integrada dos oceanos.

É importante reconhecer as limitações do relatório. Embora forneça uma visão geral abrangente do estado dos oceanos, não pode cobrir todos os aspectos em detalhes. Mais pesquisas são necessárias para preencher as lacunas de conhecimento e desenvolver soluções eficazes para os desafios que nossos oceanos enfrentam.

Como pesquisadores, temos a responsabilidade de contribuir para este esforço. Ao conduzir pesquisas inovadoras, colaborar com outras disciplinas e nos envolver com o público, podemos ajudar a criar um futuro sustentável para nossos oceanos.

E você, o que achou do relatório? Compartilhe suas reflexões nos comentários e vamos juntos ampliar a conversa sobre a saúde dos nossos oceanos!

Um abraço, Rinalde.

Bibliografia:

UNESCO. Relatório Mundial sobre o Estado do Oceano: Mudanças Oceânicas para um Clima em Mudança. Paris: UNESCO, 2024. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000390054.locale=en
. Acesso em: 16 out. 2024.