O Relatório Global de Energia Eólica de 2024 (GWEC) acende um farol para o futuro da matriz energética mundial: a energia eólica offshore. Em um contexto de urgência climática e metas ambiciosas de descarbonização, o relatório aponta para um crescimento exponencial do setor, com a capacidade global de energia eólica offshore triplicando até 2028.
Mas, para que o Brasil embarque nessa jornada e alcance seu potencial máximo, é preciso despertar a mentalidade marítima adormecida e navegar em direção a um futuro mais sustentável.
O Vento Sopra Forte no Mundo:
O relatório GWEC 2024 pinta um panorama global animador para a energia eólica offshore. A China lidera a corrida, com a Europa em seu encalço e os Estados Unidos se preparando para uma rápida ascensão. Diversos fatores impulsionam esse crescimento:
- Compromisso Global com a Descarbonização: A meta de triplicar a capacidade de energia renovável até 2030, estabelecida na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP28) coloca a energia eólica offshore como protagonista na transição energética.
- Competitividade em Alto Mar: A energia eólica offshore se torna cada vez mais competitiva em relação às fontes fósseis, impulsionada pela queda dos custos de produção e avanços tecnológicos.
- Inovação Tecnológica: O desenvolvimento de tecnologias como a energia eólica offshore flutuante, que permite a instalação em águas mais profundas, expande as possibilidades e o alcance da energia eólica offshore.
- Demanda por Energia Limpa: Empresas e consumidores, cada vez mais conscientes da crise climática, demandam energia limpa e renovável, impulsionando o mercado de energia eólica offshore.
- Políticas de Incentivo: Governos ao redor do mundo implementam políticas de incentivo e apoio ao desenvolvimento da energia eólica offshore, incluindo leilões, subsídios e financiamentos.
O relatório GWEC 2024 também destaca a importância da colaboração internacional no desenvolvimento da energia eólica offshore. A troca de conhecimentos, o desenvolvimento conjunto de tecnologias e a criação de cadeias de suprimentos globais são essenciais para impulsionar o crescimento do setor.
Brasil: Um Gigante Adormecido?
O Brasil, com seus 7.367 km de extensão de litoral e ventos abundantes, possui um potencial imenso para a energia eólica offshore. No entanto, o país ainda engatinha nesse setor, com projetos em fase inicial de licenciamento e uma capacidade instalada inexistente.
A falta de um marco regulatório claro e políticas de incentivo eficientes são os principais entraves para o desenvolvimento da energia eólica offshore no Brasil. O Projeto de Lei 11.247/2018, que visa criar um marco regulatório para o setor, ainda aguarda aprovação no Congresso Nacional.
Além disso, o Brasil precisa superar desafios como:
- Falta de Investimentos em Infraestrutura: A construção de parques eólicos offshore exige investimentos em infraestrutura portuária, de transmissão e de apoio logístico.
- Desenvolvimento da Cadeia de Suprimentos: É crucial desenvolver uma cadeia de suprimentos nacional para a fabricação de componentes e equipamentos para a energia eólica offshore, gerando empregos e impulsionando a economia.
- Capacitação de Mão de Obra: A formação de profissionais qualificados para a construção, operação e manutenção de parques eólicos offshore é fundamental para o desenvolvimento do setor.
Despertando a Mentalidade Marítima:
O Brasil precisa urgentemente despertar sua mentalidade marítima e reconhecer o potencial do oceano para o desenvolvimento sustentável do país. Por exemplo, a energia eólica offshore representa uma oportunidade única para:
- Diversificar a Matriz Energética: Reduzir a dependência de hidrelétricas e combustíveis fósseis, garantindo maior segurança energética.
- Gerar Empregos e Renda: Criar milhares de empregos qualificados na cadeia de suprimentos da energia eólica offshore, impulsionando a economia nacional.
- Promover o Desenvolvimento Regional: Desenvolver regiões costeiras com a instalação de parques eólicos offshore e infraestrutura associada.
- Contribuir para a Descarbonização da Economia: Reduzir as emissões de gases de efeito estufa e contribuir para o cumprimento das metas climáticas do Brasil.
Entretanto, para que o Brasil aproveite essa oportunidade, é fundamental que o governo, o setor privado e a sociedade civil trabalhem em conjunto para:
- Criar um Marco Regulatório Claro e Estável: Definir regras claras e transparentes para o licenciamento ambiental, a outorga de áreas e a conexão à rede elétrica.
- Implementar Políticas de Incentivo: Criar mecanismos de incentivo à pesquisa, desenvolvimento e inovação em energia eólica offshore, como linhas de crédito, subsídios e incentivos fiscais.
- Investir em Infraestrutura e Capacitação: Destinar recursos para a construção de infraestrutura portuária e de transmissão, e para a formação de mão de obra qualificada.
- Promover a Colaboração Internacional: Buscar parcerias com países líderes em energia eólica offshore para a troca de conhecimentos e o desenvolvimento conjunto de tecnologias.
Conclusões: Um Chamado à Ação para o Brasil
O Relatório Global de Energia Eólica de 2024 (GWEC) não deixa dúvidas: a energia eólica offshore é um dos pilares da transição energética global. O Brasil, com seu vasto litoral e potencial eólico invejável, tem a chance de se tornar protagonista nesse cenário. Mas, para isso, precisa urgentemente superar a inércia e despertar sua mentalidade marítima.
Não basta apenas reconhecer o potencial do oceano; é preciso agir de forma decisiva. O Brasil precisa de um plano estratégico ambicioso e bem definido para a energia eólica offshore, com metas claras, investimentos robustos e prazos determinados. A aprovação do Projeto de Lei 11.247/2018 é um passo importante, mas é apenas o começo de uma longa jornada.
É hora de o Brasil deixar de ser um gigante adormecido e se juntar à corrida global pela energia eólica offshore. O futuro da nossa matriz energética, da nossa economia e do nosso planeta depende disso.
Para que o Brasil realmente içe as velas e se torne líder em energia eólica offshore, é crucial que:
- O governo acelere a aprovação do marco regulatório e crie um ambiente de negócios atrativo para investimentos no setor.
- O setor privado invista em pesquisa, desenvolvimento e inovação, para que o Brasil domine as tecnologias necessárias e não fique dependente de empresas estrangeiras.
- As universidades e centros de pesquisa formem profissionais qualificados para atender às demandas da cadeia produtiva da energia eólica offshore.
- A sociedade civil se engaje na defesa da energia eólica offshore como uma fonte limpa, sustentável e estratégica para o desenvolvimento do país.
Deste modo, o futuro da energia eólica offshore no Brasil está em nossas mãos. O país tem o potencial de liderar a geração de energia eólica offshore. Para isso, precisamos agir com coragem, determinação e visão de futuro, e transformar nosso vasto litoral em um motor de desenvolvimento sustentável e de energia limpa para o mundo.
Referência:
Global Wind Energy Council (GWEC). (2024). Global Wind Report 2024. Bruxelas: GWEC. Disponível em: https://gwec.net/global-wind-report-2024/
Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP28). (2023). Decisão -/CP.28. Dubai, Emirados Árabes Unidos. Disponível em: https://www.fbbva.es/diccionario/removido/ (o link leva para a página com todos os documentos da COP28; a “Decisão -/CP.28” é o documento principal com as conclusões da conferência, e a meta de triplicar as renováveis está incluída nele).
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 11.247, de 20 de dezembro de 2018. Dispõe sobre a exploração de energia eólica em alto-mar e sobre a produção de energia a partir de ondas e marés; e altera a Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, 2018. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2190084. Acesso em: 31 out. 2024.